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Sem prazo para reconstrução, Estrada do Perau mantém sinais do deslizamento de 2024 que afetam o cotidiano de moradores e usuários

Em 9 de setembro de 1999, o Bar do Perau iniciou seu funcionamento nas dependências de Itaara. O empreendedor do tradicional ponto visitado nos finais de semana, Dilvio Silveira de Moura, agora com 81 anos,  lembra bem da estreia e, também, da primeira vez que fechou as portas. Foi há dois meses. Resultado da baixa circulação de pessoas na Estrada do Perau desde o bloqueio entre a placa que marca os limites do município e a entrada pelo Bairro Campestre do Menino Deus, em 1º de maio de 2024. 

Ainda que o trecho de dois quilômetros, do total de cinco, seja no lado de Santa Maria, moradores e comerciantes de Itaara são os mais afetados, já que os veículos ficam impossibilitados de passar pela tradicional rota. Com isso, outros caminhos, inclusive mais demorados, são utilizados. Ao Grupo Diário, a comunidade disse estar ciente da verba federal de R$ 23 milhões destinada para a reconstrução da via e das encostas, mas não acredita na rapidez das obras para a liberação da estrada histórica entre Santa Maria e Itaara. 

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Moura acredita que, mesmo com o anúncio positivo, seus próximos meses serão limpando as mesas e cadeiras do bar esporadicamente. A perspectiva é que talvez em 2026 veja alguma mudança. O comericante diz que não depende do bar financeiramente, mas sente falta das longas conversas com a freguesia qualificada, como descreve:  

Dilvio no Bar do Perau, que funciona há 25 anos. Foto: Vinicius Becker Carvalho (Diário)

– Há um ano meu movimento diminuiu em torno de 70%, no mínimo, no primeiro fechamento (1º de maio de 2024). O povo sempre dá um jeitinho de vir, mas agora está 100% fechado. Os trilheiros sobem de moto, as sábados principalmente, mas são só eles. Não acredito que veremos obra tão cedo, porque levaram um ano para fazer um projeto. Não sei se dentro de mais um ano. Até lá, o estabelecimento fica fechado. Fecha também o lugar onde me divirto, conheço gente, faço amizades, brinco com os fregueses. 

O bar sentiu a redução desde as fortes chuvas que fizeram com que o morro deslizasse, levando terra, árvores, e criando uma fenda aberta no morro. Para isolar a área, os pontos de bloqueio foram sinalizados, e menos pessoas circularam pela estrada desde então. 

Mas foi nos últimos dois meses, próximo à data em que houve um reforço no bloqueio na entrada pelo Bairro Campestre do Menino Deus, após inúmeros registros de motoristas circulando na estada apesar dos avisos de passagem proibida, que a situação ficou insustentável e o estabelecimento fechou de vez. O bloqueio total da via ocorreu em 25 de maio deste ano. Com os deslizamentos, a preocupação dos órgãos públicos e de especialistas na área é com a instabilidade do terreno. Até que haja a recuperação da via, os bloqueios seguirão, para presentar vidas, conforme as autoridades.  


Como está o ponto mais crítico

O ponto mais delicado, em que houve o deslizamento, fica próximo à curva do Perau conhecida como "cotovelo". As marcas do fenômeno natural ainda estão acentuadas. Há terra sobre o solo, e os paralelepípedos foram arrancados no trecho. Ao olhar morro acima, é possível ver o trecho em que a vegetação desceu. As pedras são aparentes. Depois de mais de um ano, o verde que existe é do limo criado pela umidade.  

Sobre as condições entre os bloqueios, em todo o trecho que fica em Santa Maria os paralelepípedos de os canteiros precisam de manutenção. Já em Itaara, a estrada está mais conservada. Os mirantes estão pichados, com grama alta e aspecto de abandonado. 


Quem tenta passar pelos bloqueios 
Apesar das placas e da nova estrutura posta para barrar a circulação de veículos, a reportagem registrou a passagem de um pedestre, quatro motociclistas e dois carros no tempo em que esteve no local. Seriam dois quilômetros que ganharam nova sinalização em maio, mas já não estão mais nas mesmas condições. Confira a situação da estrada:

  • Na entrada do Campestre – Os carros não passam, mas usuários abriram um caminho entre as pedras, sobre a calçada, para motos e pedestres 
O caminho para passagem é a direita da foto. Foto: Vinicius Becker Carvalho (Diário)
  • Próximo à placa de limite dos municípios – Carros passam pela lateral, mas precisam fazer a volta, pois um bloqueio seguinte, após os 2 km, não possibilita passagem  
Um dos motociclistas passando no ponto em que houve o deslizamento. Foto: Vinicius Becker Carvalho (Diário)

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Em um dia comum, é normal que oito a 10 carros cheguem próximo à barreira de pedras no Bairro Campestre do Menino Deus e percebam a impossibilidade de passar pelo ponto, seja subindo a Itaara ou descendo sentido Santa Maria. A informação é do morador do bairro, o aposentado Airton Vieira Jardim, 72 anos, que recorrentemente assiste às tentativas frustradas de motoristas tentando cruzar a Estrada do Perau.

Airton mostra o ponto de bloqueio, onde os veículos dão meia volta.Foto: Vinicius Becker Carvalho (Diário)

– É um fluxo constante. Pessoas vêm e voltam. Hoje mesmo (9 de julho), cerca de 10 carros pararam aqui. Tem uns que viajam, sabem que o Perau seria o caminho mais perto. Chegam aqui e precisam voltar. Não tenho expectativa de ver obra por aqui neste ano – diz Jardim. 

Quem usava a via 

Moradores e condutores a caminho de outros municípios utilizavam recorrentemente a Estrada Engenheiro Baldur Welzel Loebler, nome oficial da Estrada do Perau. O último levantamento oficial da prefeitura de Santa Maria, de 2020, indica que cerca de 800 veículos transitam por dia pela via. 


André Bermann Carré, 47 anos, presidente da Associação Amigos do Perau – entidade criada em janeiro deste ano para promover melhorias e desenvolvimento empresaria, cultural, econômico e turístico –,  destaca que a comunidade está ansiosa para que a trafegabilidade seja retomada, ainda que parcial e com os devidos cuidados: 

– Já fomos em quatro audiências com o Ministério Público para tratar dos bloqueios. A comunidade gostaria de maior acessibilidade, antes do Perau passar pelas obras. Quem sabe em meia-pista ou com controle. Agora, com a verba liberada, acreditamos que em breve comecem as as considerações com o Perau – informa. 

Ainda sobre os bloqueios, Carré reforça que a prioridade é a vida: 

– A gente preza, principalmente, pela vida. As pessoas se cuidando, tudo bem, se quiserem acessar. Tem placa indicando, mas a gente procura que seja restabelecido o Perau de acordo como as regras. 

Foto: Vinicius Becker Carvalho (Diário)

Rotas alternativas 

A única rota entre Santa Maria e Itaara é a BR-158, tanto para aqueles que desejam se deslocar em direção aos municípios de Itaara e Júlio de Castilhos, quanto para quem precisa ir a Santa Maria. O impacto desse desvio é potencializado com as obras realizadas nas encostas da rodovia federal, que está em pare e siga ou totalmente bloqueada para a saída ou entrada de maquinário. 

A reportagem demorou cerca de 20 minutos, parando no pare e siga, tanto na ida a Itaara quanto na volta. Mas este tempo pode ser bem maior de acordo com o relato da comunidade, que descreveu situações em que demoraram duas horas. Quando havia a Estrada do Perau, a viagem durava 20 minutos. 


A Estrada do Perau 

  • Liga Santa Maria a Itaara – 5 km de extensão 
  • Bloqueio – 2 km, entre o Bairro Campestre e a placa que sinaliza limite entre os municípios 
  • Desde quando está fechada – 1º de maio de 2024
  • Ponto mais delicado – Próximo à curva do cotovelo, no lado de Santa Maira
  • Quem passa – Pedestres e motos estão ignorando as sinalizações. Carro não consegue fazer a passagem completa 


Verba para a reconstrução 

Conforme a prefeitura de Santa Maria, os R$ 23 milhões autorizados para a execução da obra pelo governo federal ainda não estão na conta do município. Após a confirmação do valor, em 2 de julho, o prefeito Rodrigo Decimo (PSDB) disse que a gestão iria trabalhar para agilizar a licitação para a reconstrução da Estrada e a contenção das encostas. 


Cronograma 

  • Valor – Confirmado em 2 de julho pelo governo federal 
  • Situação atual – Santa Maria aguarda o valor na conta bancária 
  • Próximo passo – Licitação da obra 
  • Demais prazos dependem dos passos anteriores 

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